METAIS
PESADOS: UM PERIGO EMINENTE
Acredita-se
que os metais talvez sejam os agentes tóxicos
mais conhecidos pelo homem. Há aproximadamente
2.000 anos a.C., grandes quantidades de chumbo eram
obtidas de minérios, como subproduto da fusão
da prata e isso provavelmente tenha sido o início
da utilização desse metal pelo homem.
Os metais pesados diferem de outros agentes tóxicos
porque não são sintetizados nem destruídos
pelo homem. A atividade industrial diminui significativamente
a permanência desses metais nos minérios,
bem como a produção de novos compostos,
além de alterar a distribuição
desses elementos no planeta.
A presença de metais muitas vezes está
associada à localização geográfica,
seja na água ou no solo, e pode ser controlada,
limitando o uso de produtos agrícolas e proibindo
a produção de alimentos em solos contaminados
com metais pesados.
Todas as formas de vida são afetadas pela presença
de metais dependendo da dose e da forma química.
Muitos metais são essenciais para o crescimento
de todos os tipos de organismos, desde as bactérias
até mesmo o ser humano, mas eles são requeridos
em baixas concentrações e podem danificar
sistemas biológicos.
Os metais são classificados em:
1. elementos essenciais: sódio, potássio,
cálcio, ferro, zinco, cobre, níquel e
magnésio;
2. micro-contaminantes ambientais: arsênico,
chumbo, cádmio,
mercúrio, alumínio,
titânio, estanho e tungstênio;
3. elementos essenciais e simultaneamente micro-contaminantes:
cromo, zinco, ferro,
cobalto, manganês
e níquel.
Os efeitos tóxicos dos metais sempre foram considerados
como eventos de curto prazo, agudos e evidentes, como
anúria e diarréia sanguinolenta, decorrentes
da ingestão de mercúrio. Atualmente, ocorrências
a médio e longo prazo são observadas,
e as relações causa-efeito são
pouco evidentes e quase sempre subclínicas. Geralmente
esses efeitos são difíceis de serem distinguidos
e perdem em especificidade, pois podem ser provocados
por outras substâncias tóxicas ou por interações
entre esses agentes químicos.
A manifestação dos efeitos tóxicos
está associada à dose e pode distribuir-se
por todo o organismo, afetando vários órgãos,
alterando os processos bioquímicos, organelas
e membranas celulares.
Acredita-se que pessoas idosas e crianças sejam
mais susceptíveis às substâncias
tóxicas. As principais fontes de exposição
aos metais tóxicos são os alimentos, observando-se
um elevado índice de absorção gastro-intestinal.
Em adição aos critérios de prevenção
usados em saúde ocupacional e de monitorização
ambiental, a biomonitorização tem sido
utilizada como indicador biológico de exposição,
e toda substância ou seu produto de biotransformação,
ou qualquer alteração bioquímica
observada nos fluídos biológicos, tecidos
ou ar exalado, mostra a intensidade da exposição
e/ou a intensidade dos seus efeitos.
Recentemente, tem sido noticiado na mídia escrita
e falada a contaminação de adultos, crianças,
lotes e vivendas residenciais, com metais pesados, principalmente
por chumbo e mercúrio. Contudo, a maioria da
população não tem informações
precisas sobre os riscos e as conseqüências
da contaminação por esses metais para
a saúde humana.
O caso fatídico em Bauru, SP, é um dos
exemplos dessa contaminação. A Indústria
de Acumuladores Ajax, uma das maiores fábricas
de baterias automotivas do país localizada no
km 112 da Rodovia Bauru-Jaú, contaminou com chumbo
expelido pelas suas chaminés 113 crianças,
sendo encontrados índices superiores a 10 miligramas/decilitro
(ACEITUNO, 18-04-2002).
Foram constatados ainda a contaminação
de animais, leite, ovos e outros produtos agrícolas,
resultando em um enorme prejuízo para os proprietários.
Um dos casos mais interessantes foi o de uma criança
de 10 anos, moradora de um Núcleo Habitacional
localizado próximo à fonte poluidora.
Desde os sete meses de idade sofria de diarréia
e de deficiência mental. Somente após suspeitas
dessa contaminação, em 1999, quando amostras
do seu sangue foram enviadas a dois centros toxicológicos
nos Estados Unidos, é que foi constatada a intoxicação
por chumbo, urânio, alumínio e cádmio
(ACEITUNO, 18-04-2002).
A cidade de Paulínia, em SP, e o bairro Vila
Carioca também foram contaminados pela Shell
Química do Brasil. Em Paulínia, dos 166
moradores submetidos a exames, 53% apresentaram contaminação
crônica e 56% das crianças revelaram altos
índices de cobre, zinco, alumínio, cádmio,
arsênico e manganês. Em adição
observou-se também, a incidência de tumores
hepáticos e de tiróide, alterações
neurológicas, dermatoses, rinites alérgicas,
disfunções gastro-intestinais, pulmonares
e hepáticas (GUAIUME, 23-08-2001).
Dos 2,9 milhões de toneladas de resíduos
industriais perigosos gerados anualmente no Brasil,
somente 600 mil toneladas recebem tratamento adequado,
conforme estimativa da Associação Brasileira
de Empresas de Tratamento, Recuperação
e Disposição de Resíduos Especiais
(ABETRE). Os 78% restantes são depositados indevidamente
em lixões, sem qualquer tipo de tratamento (CAMPANILI,
02-05-2002).
Recentemente a companhia Ingá, indústria
de zinco, situada a 85 km do Rio de Janeiro, na ilha
da Madeira, que atualmente está desativada, transformou-se
na maior área de contaminação de
lixo tóxico no Brasil. Metais pesados como zinco,
cádmio, mercúrio e chumbo continuam poluindo
o solo, a água e atingem o mangue, afetando a
vida da população. Isso ocorreu porque
os diques construídos para conter a água
contaminada não têm recebido manutenção
há cinco anos, e dessa forma os terrenos próximos
foram inundados, contaminando a vegetação
do mangue.
Bibliografia
1.
ACEITUNO, J. Mais 22 crianças estão contaminadas
com chumbo em Bauru. O ESTADO DE SÃO PAULO. 12-04-2002.
2. ACEITUNO, J. Já são 76 crianças
contaminadas por chumbo em Bauru. O ESTADO DE SÃO
PAULO. 18-04-2002.
3. ACEITUNO, J. Ministério inspeciona atendimento
aos contaminados por chumbo. O ESTADO DE SÃO
PAULO. 07-05-2002.
4. CAMPANILI, M. Apenas 22% dos resíduos industriais
têm tratamento adequado. O ESTADO DE SÃO
PAULO. 02-05-2002.
5. Descoberta a maior área de contaminação
de lixo químico do Brasil. JORNAL NACIONAL. 09-04-2002.
6. GUAIME, S. Laudo comprova contaminação
dos moradores de Paulínia. O ESTADO DE SÃO
PAULO. 23-08-01.
7. MUNG, M. CPI vai pedir interdição de
terminal da Shell em SP. O ESTADO DE SÃO PAULO.
03-05-2002.
8. SALGADO, P. E. T. Toxicologia dos metais. In: OGA,
S. Fundamentos de toxicologia. São Paulo, 1996.
cap. 3.2, p. 154-172.
9. SALGADO, P. E. T. Metais em alimentos. In: OGA, S.
Fundamentos de toxicologia. São Paulo, 1996.
cap. 5.2, p. 443-460.
10. TREVORS, J. T.; STRATDON, G. W. & GADD, G. M.
Cadmium transport, resistance, and toxicity in bacteria,
algae, and fungi. Can. J. Microbiol., 32: 447-460, 1986.
11. ZIMBRES, E. www.meioambiente.pro.br
Autores:
1. Viviane Nakano (Doutoranda em Microbiologia, ICB)
2. Dr. Mario Julio Avila-Campos (Professor Associado
do Depto. Microbiologia)
Laboratório de Anaeróbios, Departamento
de Microbiologia, 2º andar, sala 242
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