Os microRNAs (miRNA) fazem parte de uma grande classe de RNAs não codificadores com funções regulatórias. São pequenas moléculas de RNA fita simples que agem como potentes reguladores pós-transcricionais da expressão gênica.
A descoberta de que miRNAs regulam vias de sinalização importantes no controle de diversos processos fisiopatológicos fez com este tipo de molécula ocupasse posição de grande destaque na pesquisa biológica e biomédica, sendo considerada uma das mais importantes descobertas da era pós-genômica.
Os miRNAs, descritos originalmente em C. elegans em 1993, permaneceram inexplorados por quase uma década. A partir da descoberta do segundo miRNA em 2000, o let-7, mais de 6.000 miRNAs foram identificados em mais de 150 espécies, incluindo vírus, plantas, fungos e animais. Em humanos o número de miRNAs até o momento ultrapassa 1.400.
Os miRNAs realizam a repressão da síntese proteica através da interação com a região 3’não traduzida de RNAs mensageiros (mRNA) alvos. Pelo seu pequeno tamanho e interação imperfeito com mRNAs alvos, os miRNAs compõem uma complexa rede de regulação pós-transcricional da expressão gênica. Ainda hoje, ferramentas de bioinformática têm identificado novos genes de miRNA no genoma, além de estimar a predição de mRNAs alvos.
A análise de expressão de miRNAs poderá ser de grande utilidade como ferramenta diagnóstica e prognóstica, uma vez que o padrão de expressão de miRNAs discrimina com maior eficiência as amostras patológicas do que as metodologias convencionais que utilizam o padrão de expressão de mRNAs. Além disso, a modulação de miRNAs in vivo tem apresentado resultados promissores no que se refere à modulação de vias de sinalização envolvidas em processos patológicos.
A expressão forçada ou a inibição específica de um único miRNA têm se mostrado eficientes para restaurar ou interromper a transdução do sinal, restaurando o fenótipo normal em diversas condições patológicas. No exterior, os avanços nesta área incluem ensaios clínicos, no entanto a pesquisa translacional em miRNAs ainda é incipiente no Brasil. Os grupos de pesquisa envolvidos na criação do presente Núcleo de Apoio à Pesquisa já contribuíram com publicações e desenvolvem projetos de pesquisa com financiamento nesta área, envolvendo pós-doutorado, alunos de iniciação científica e de pós-graduação. Paralelamente ao crescimento da produção científica internacional na área de miRNA, a publicação nacional também tem aumentado recentemente, no entanto a fração da produção do país compreende apenas 0,2% das 18.400 publicações indexadas no MedLine (março/2012). Desta forma torna-se necessário um esforço conjunto para implementar e acelerar o conhecimento científico nesta área. A integração de grupos de pesquisa brasileiros certamente acelerará este processo e a proposta de criação deste Núcleo de Apoio à Pesquisa em miRNA contribuirá trazendo importantes avanços na pesquisa básica e translacional no país.